segunda-feira, 22 de novembro de 2010

SAIBA QUAIS OS RISCOS DO “SEXTING”


Pouco mais de duas décadas atrás, quando um grupo de adolescentes se reunia no vestiário da escola ou do clube, o máximo de erotismo a que eles tinham acesso era uma revista que mostrava fotos de mulheres com os seios de fora. Nu frontal, só em publicações estrangeiras. Imagens de sexo explícito só apareciam nas histórias pornográficas desenhadas por Carlos Zéfiro. Hoje, quando o sinal do intervalo dispara e um grupo de alunos deixa a sala de aula para colocar em dia a conversa com os colegas, muitos têm algo bem mais picante para mostrar no visor do celular. O que os excita são as cenas de adolescentes nuas ou praticando sexo. Não se trata de cenas baixadas da internet, mas gravadas por colegas e distribuídas por tecnologias a que todo celular hoje em dia tem acesso, como o Bluetooth. O fenômeno de fotografar ou filmar a si próprio em momentos de intimidade e transmitir as imagens por celular nasceu nos Estados Unidos, onde é chamado de “sexting” – neologismo que une sex (sexo) e texting (a troca de mensagem de texto pelo telefone). Em pouco tempo, a mania se espalhou como vírus.




Uma pesquisa publicada em dezembro passado comprova que, nos EUA, o sexting é mais comum do que imaginam os pais. Segundo o estudo, um em cada cinco jovens americanos com idade entre 13 e 19 anos já enviou pelo celular algum tipo de foto ou vídeo de si mesmo nu ou seminu. Para chegar ao resultado, a organização não governamental National Campaign to Prevent Teen and Unplanned Pregnancy (Campanha Nacional para Prevenção dos Jovens e Gravidez Não Planejada) ouviu 1.280 adolescentes americanos entre 13 e 26 anos. Entre os jovens de 20 a 26 anos, o fenômeno é ainda mais comum: um terço dos entrevistados declarou já ter praticado o sexting. As histórias nem sempre têm desfecho inocente – a brincadeira que costuma oscilar entre a travessura e a pornografia está virando um problema para pais e os próprios adolescentes. No Brasil ainda não há dados sobre a extensão do fenômeno, mas já existem vídeos que se tornaram sucesso de público. Um deles foi colocado na internet com um link que pode ser acessado pela comunidade da torcida do Flamengo no site de relacionamentos Orkut.
Brincadeiras de mau gosto desse tipo fazem parte de outro fenômeno – o espírito vingativo de ex-namorados que passam a divulgar imagens da intimidade do antigo parceiro como forma de manchar sua reputação. A prática da vingança digital teve início quando um ex de Paris Hilton colocou na internet o vídeo em que os dois fazem sexo. Paris Hilton só ficou mais famosa depois do episódio, mas nem sempre o final da história é tão simples.
Em julho do ano passado, uma adolescente americana se suicidou depois de um escândalo de sexting. Jessica Logan, então com 18 anos, queria presentear o namorado. Fotografou-se sem roupa e enviou pelo celular as imagens para o garoto. Quando o relacionamento de dois meses terminou, o jovem não hesitou em compartilhar as imagens da ex-namorada, uma líder de torcida loira, extrovertida e atraente, com os amigos de seu colégio, na cidade de Cincinnati. Em pouco tempo, a foto de Jessica percorreu sete colégios. A garota não aguentou as provocações. Chamada de “piranha” e “vagabunda”, entrou em depressão e começou a faltar às aulas. Até que se enforcou. Hoje, seus pais lutam por uma legislação específica para julgar os desdobramentos do sexting. “É uma epidemia nacional. Ninguém está fazendo nada – nem as escolas, nem a polícia, nem os adultos, nem os advogados, ninguém”, disse Cynthia Logan, mãe de Jessica, às vésperas do lançamento de uma campanha nacional nos Estados Unidos que pretende conscientizar escolas e alunos sobre o problema. Quatro Estados americanos já classificam o sexting como crime de pornografia infantil ou exploração sexual de menores. Em fevereiro, 17 adolescentes americanos que praticaram o sexting foram acusados pelo crime de pornografia infantil – embora as imagens divulgadas fossem deles mesmos. Na semana passada, um juiz federal da Pensilvânia, EUA, suspendeu o andamento de um processo que acusa três garotas de pornografia infantil. As meninas aparecem nuas em fotos que estavam em seus telefones celulares, apreendidos por funcionários de uma escola de Wyoming County, na Pensilvânia.

No Brasil, o adolescente que virou refém de suas próprias fotos ou vídeos ainda encontra dificuldade para ver o culpado punido. “Eu queria que meu ex-namorado pagasse pelo que fez porque não consigo mais emprego depois que toda a cidade viu minhas fotos”, diz Tayla Predalla, uma estudante de biologia de 20 anos de Penápolis, cidade de 56 mil habitantes, no interior de São Paulo. Tayla tinha 17 anos e cursava o ensino médio quando seu então namorado a fotografou enquanto faziam sexo. O namoro terminou em chantagem, e o garoto enviou as imagens para todos os nomes de sua lista de e-mail. Três anos depois, em setembro do ano passado, Tayla e o ex foram convocados para depor. Não houve punição. “Terei de conviver para sempre com pessoas que vão comentar sobre o que fiz com 17 anos”, diz ela.
Segundo o advogado Marcel Leonardi, especialista em Direito Eletrônico, os casos de difamação na internet estão cada vez mais frequentes, ainda que poucas vítimas levem o problema aos tribunais, por medo da exposição. “A vítima é, geralmente, a moça cujo marido ou namorado conseguiu convencê-la a se deixar filmar ou fotografar”, diz Leonard. Em janeiro de 2006, a jornalista Rose Leonel, de 38 anos, que vive em Maringá, no Paraná, encontrou na internet 480 fotos e um vídeo com cenas íntimas feitas por um ex-namorado, junto com números de telefone dela (o celular, o da casa e o do trabalho). Além de exibir as imagens, a página da internet dizia que a garota era uma prostituta. “Perdi meu emprego e passei a receber ligações até de fora do país: Holanda, Portugal, Estados Unidos”, diz ela. “Depois de mais de um ano de ataques incessantes, ele começou a colocar minhas imagens em sites de pornografia, no Brasil e no exterior.” Ela contratou um especialista em segurança da informação que conseguiu provar de onde partiram as imagens e informações. “Movi um processo criminal contra ele e o técnico de informática que o ajudou. Pagaram ínfimos R$ 3 mil. Depois de três anos, eu era uma figurinha comum nos sites de prostituição.”
Hoje, o caso está novamente na Justiça, e seu advogado pede uma indenização de R$ 500 mil. “Sei que minha vida nunca mais será a mesma”, diz Rose. “Mas as pessoas precisam saber que crimes assim podem ser rastreados, desvendados e punidos.” Wanderson Castilho, o especialista em segurança da informação que conseguiu provar que foi o ex de Rose quem divulgou os vídeos na internet, diz que, de cem casos de difamação e atentado contra a honra na internet, apenas dois são solucionados no Brasil.
Apesar de ainda serem raros nos tribunais brasileiros, os processos desse tipo estão gerando indenizações expressivas. A mais alta até agora ficou em R$ 100 mil, fixada por um tribunal de Minas Gerais. Mas, nesse caso, não se trata de uma vingança de ex. A vítima, que mora em São Paulo, recebeu e-mails anônimos com as fotografias, que, segundo ela, são montagens feitas com seu rosto. As mensagens foram enviadas durante dez meses para diversos endereços eletrônicos, a partir de uma conta de e-mail criada com o nome dela. Depois de muita insistência, a vítima conseguiu na Justiça que a operadora de telefonia fornecesse os dados do usuário do computador de onde partiram os e-mails. Com isso foi possível rastrear as mensagens eletrônicas e chegar a um computador na cidade de Teófilo Otoni. A primeira sentença estipulou uma indenização de R$ 5 mil. Mas a vítima recorreu, e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais elevou o valor em 20 vezes. “Isso pode ser uma maneira de compensar a falta de uma legislação mais rígida para esse tipo de caso”, diz o advogado Renato Opice Blum. “O grande diferencial da internet é que um e-mail atinge milhares de pessoas em questão de minutos.”
A menina que faz uma imagem de si mesma nua está lutando por sua popularidade
Para os psicólogos, duas questões se combinam quando a tecnologia abre espaço para manifestações da sexualidade. A primeira é a competição acirrada pelo poder dentro de um grupo, sobretudo na adolescência. “A menina que se fotografa nua está, na verdade, lutando com outras garotas para promover sua popularidade”, afirma a psicóloga americana Susan Lipkins. Ela está conduzindo um estudo com 300 jovens para entender o fenômeno do sexting. Os resultados da pesquisa serão divulgados em um mês, mas Lipkins adianta alguns traços comuns entre os adolescentes envolvidos. “Quem envia esse tipo de imagem a um pretendente está inconscientemente testando seu valor de mercado dentro de um grupo.”
A segunda questão é a frágil noção de privacidade dos adolescentes. Para a psicóloga Leila Tardivo, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, “o jovem precisa saber que tudo o que ele faz nessa extensão virtual de sua vida pode ter impactos na vida real”. Para evitar os problemas como os que infernizaram a vida da paranaense Rose e da paulista Tayla, vale um conselho: não se deixar filmar nem fotografar na intimidade. E evitar fazer isso mesmo sozinha ou sozinho. Nunca se sabe quem vai ter acesso à memória de seu computador.
A intimidade que vazou
Vanessa Hudgens
A atriz da série adolescente High school musical virou hit na internet no ano passado. Além de fotos dela nua, caíram na rede imagens dela e do namorado, o ator Zac Efron, nus, deitados na cama
Maíra Cardi
Ao sair do Big brother Brasil, Maíra virou notícia por conta de um vídeo distribuído na internet em que ela aparece fazendo sexo oral em seu ex-marido, o jogador de futebol Marcelo de Faria
Kristin Davis
No ano passado, circularam na web fotos em que a Charlotte de Sex and the city faz sexo oral em seu então namorado, o chef Eric Stapelman. Ele disse que vendeu as imagens porque estava bravo com a ex
Paris Hilton
Em 2004, caiu na internet um vídeo em que a patricinha protagonizava cenas de sexo com o ex-namorado Rick Salomon. Ele teria divulgado a intimidade do casal sem o consentimento de Paris

8 comentários:

  1. Anselmo, são muitos os casos e vou te confessar uma coisa: eu quando moço e ainda não convertido, convencia as garotas com quem saía a me deixar fotografá-las nuas ou fazendo oral comigo. Em minha turma de adolescente, tínhamos vários amigos que faziam o mesmo. As vezes até filmávamos a transa e depois, quando nos reuníamos, todos viam as fotos e os vídeos. Claro que se fosse a namorada só veríamos ou mostraríamos depois de o namoro terminar. Então meu amigo, isso é velho, o que é novo é a divulgação na rede mundial de computadores.
    Creio que é essencial ensinarmos nossas meninas a JAMAIS se deixarem fotografar ou filmar e nem a se autofotografar ou filmar.
    O ser humano é perverso e em se tratando de jovens, a coisa é ainda pior.
    Quanto as comunidades do orkut tipo "bobeou caiu na net" são incentivos a transgressão e um modo muito usado de encontrar nudez ou sexo que não sejam com prostitutas.
    A Paris Hilton mesmo, fez o maior sucesso, seu vídeo parece brincadeira de casal apaixonado, dá pra sentir sua confiança no namorado por deixá-lo filmar um momento tão íntimo. Creio que ela jamais imaginou que ele pudesse divulgar.
    Então meu irmão, muitas mulheres são otárias e muitos homens são cafajestes e mau caráter.
    Graça, bom senso e sabedoria.

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  2. Anselmo,

    Esse caso é gravíssimo, mesmo. Como o Cláudio disse, isso já acontece há muito tempo, tendo a grande diferença da divulgação.

    Sou pai de duas adolescentes e de uma menina que, se Deus quiser, ainda vai chegar lá. E minha esposa e eu conversamos muito com elas, a respeito da integridade delas, em todos os níveis, e do envolvimento delas com suas "paixões" (na conversa com a menor, o vocabulário é mais ameno). Além disto, agimos como "beque parado" na marcação cerrada (mesmo assim, tudo é possível). Creio que a informação que passamos a elas, a educação, a orientação, sejam alguns meios de se evitar tais coisas, mas, mesmo assim, pode não ser o suficiente, infelizmente.

    Certamente, urge que se façam leis específicas que coíbam tais atos. Mas no nosso Brasil, esse negócio de leis é meio banalizado. Por exemplo, um adolescente nunca será devidamente penalizado por nada, ainda que seja responsável pela morte de alguém. Isto é grave e sério!

    Grande abraço e continue na Paz!

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  3. Anselmo, concordo plenamente contigo, o René levantou uma questão fundamental que é a orientação dentro de casa. Falar claramente sobre isso a começar no lar. Vivemos num mundo irresponsável com adolescentes inconseqüentes de ambos os sexos. Também tenho 3 filhas, 2 com mais de 20 anos e uma de apenas 6 anos e preocupo-me diariamente com o rumo que as coisas estão tomando em nosso inadmissível mundo novo.
    Por outro lado creio que Deus é aquele que nos protege e que nossas intercessões não são vãs.
    Realmente leis para punir tais absurdos são muito bem vindas.
    Em Cristo Jesus.

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  4. Efeitos da globalização da comunicação somando ao anonimato, criar mais instrumentos juridico para advogados terem mais força e certeza de como agir, já está sendo realizado. Agora criar leis e não aplica-las é dar força a injustiça que já é grande em nosso país. veja linkhttp://paisdaelitenews.wordpress.com/2010/11/06/projeto-de-lei-propoe-fim-do-anonimato-na-internet-podera-ser-o-fim-dos-blogs-no-brasil/

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  5. Pastor,

    Veja a influência machista do jovem na sua forma mais sofisticada de perversidade.

    E eu acho que vivo em outro planeta porque eu não consigo entender que tipo de anta, digo, que tipo de menina testa a própria popularidade dessa forma. É preciso que esteja muito transtornada, com a autoestima em baixa, enfim, profundamente doente na alma pra cair nesse conto tão antigo.

    E os pais não conseguem enxergar nem um sinalzinho disso tudo?!

    Esperam a garota se enforcar pra tomar uma atitude?!

    Sinceramente, eu não consigo entender mesmo e podem achar que estou por fora, mas sempre vou acreditar que é a ausência dos pais que provoca isso. Ausência no sentido de zelo, cuidado, amizade. Não basta ser provedor, tem que estar JUNTO!!! Afinal, eles mesmos que passaram por joguinhos sacanas similares, bem que deveriam marcar mais presença, começando a disciplinar de forma AMOROSA sem pressão nem imposições mas com diálogo franco. a fórmula é tão simples, poxa. Pra mim é a falta de AMOR, no seu sentido mais amplo, que provoca todo esse desmoronamento.

    Muito triste tudo isso.:(

    Vou te contar uma coisa: quando eu tinha 15 anos e minha irmã mais velha 17, nós duas moramos no convento de minha tia freira e estudávamos em outro colégio de freira. Nosso apartamento ficava num bloco que não tinha ligação com a parte interna, portanto poderíamos sair à vontade se quiséssemos. Teoricamente, ninguém iria saber. Entretanto, nós duas nunca - eu disse NUNCA - saímos para dar uma de doidinha por aí e voltar com carinha lisa de santa p#$@. Nem uma vezinha sequer! Nunca sentimos vontade de fazer parte dos grupos de maluquinhas. E pra mim, essa é a palavra-chave: vontade. Vontade que leva à escolha infeliz e que gera uma coisa chamada CONSEQUÊNCIA. Consequência muitas vezes amarga e irreversível.

    Que Deus tenha misericórdia!

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  6. Querida Re.
    Concordo com suas observações, é mesmo um pouco de tudo isso ou a falta de tudo aquilo que precipita esses jovens por esse caminho.
    A falência da família em minha opinião ocupa o topo em escala de grandeza como responsável por tanta pobreza de espírito.
    Tenho observado aqui na minha cidade algo que não é novo mas uma realidade com a qual eu nunca havia convivido. As indústrias trabalham 24h,mães e pais são submetidos a uma carga de horário absurda e em turnos onde a falta deles é mais sentida dentro de casa, soma-se a isso o capitalismo louco em que vivemos onde todos são avaliados pelo que têm e não pelo que são, temos aí praticamente todos os ingredientes para uma catástrofe social.
    Abração.Paz!

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  7. Exatamente! Podemos resumir essa situação deplorável em uma única palavra: AUSÊNCIA!

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  8. Amado Anselmo,

    Creio que o testemunho da Rê se enquadra na palavra que diz que "até a criança mostra o que é por suas ações; o seu procedimento revelará se ela é pura e justa".

    Assim, a falência da família, como você apontou, realmente é o fator principal para tais acontecimentos. Esta falência impede a observação de quem é, verdadeiramente, a criança. Além disto, depois que acontece algo mais grave, é muito comum se buscar culpados externos. Não que eles não existam, mas a responsabilidade de quem detém o pátrio poder, normalmente, é colocada em segundo plano.

    A Rê também mencionou o trato com amor, com o qual concordo inteiramente. Mas este amor não pode nunca descartar a disciplina, pois quem ama, precisa disciplinar. Deus nos disciplina, por nos amar. E Sua Palavra também diz que "a insensatez está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a livrará dela".

    Não quero dizer, com isso, que as pessoas que agirem dessa forma estarão totalmente isentas de passarem por tais problemas, mas as chances diminuirão muito, assim. Além disto, como o Cláudio disse, nossas intercessões, diante de Deus, não são vãs e Ele nos protege. Podemos confiar que, se algo ruim acontecer, Ele transformará o mal em bem, por mais difícil que seja passar pelo mal.

    Grande abraço a todos e continuem na Paz!

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